sábado, 24 de novembro de 2012

Atacama - 11o dia - S.P. de Atacama - Taltal/CL

Taltal/CL, 24 de Novembro de 2012

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Trajeto: S.P. de Atacama - Taltal/CL, via RN23, RP25, RN 5

Comentários (pós-viagem): RN 5 é tipo a BR116 do Chile, sendo em mão dupla abarrotada de caminhões - perigosa e empoeirada. Trecho cruzando o deserto, muito quente, muita poeira devido ao transporte de minerios, terras, etc. Em vários locais obras de duplicação da estrada aumentando ainda mais a bagunça e o risco. Já a B-710 é um espetáculo indo em direção ao mar em uma bela "serrinha" e depois costeia o pacífico (fantástico!) assim como nossa BR101 no trecho entre RJ e SP. A cidade de caldeira tem a Baia Inglesa - um otimo ponto turistico a beira-mar, valendo o pernoite.

Distância do dia: 550km

Tempo Pilotando: 8 horas (das 12:00 as 20:00)

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Hoje eu entendi o porque os caras escolheram a região do norte do Chile e Argentina como cenário do Rally Paris-Dakar. Afinal, são km e mais km.. a perder de vista de deserto, dunas, retas intermináveis... poeira e mais poeira, seco, quente, ...infinito, cenário de filme. Só faltam os camelos.

Esta geografia curiosa leva o deserto e as montanhas até o mar... literalmente. Me lembrou a Serra do Mar a beira do litoral entre SP e RJ. Mas as diferenças são grandes: primeiro o verde.. que por aqui em amarelo/cinza do deserto. Segundo a umidade, que por aqui é bem baixa. Terceiro a temperatura, que mesmo no verão a beira mar bate os 15 graus. Quarto, as praias..   pois por aqui são praias de pedra, pouco convidativas. Mas parecem cenário do Discovery Channel daqueles onde a Orca são pulando da onda para engolir uma foca.

Chegamos hoje em uma cidadezinha a beira do pacífico chamada TalTal. Aqui vivem pescadores e mineradores. E por falar nestes, aqui no norte do Chile a principal atividade é a mineração de cobre e outras coisas a mais..  e estes caras - e seus mega-caminhões - ajudam a tornar o ar das estradas ainda mais empoeirados, fazendo com que longos trechos o visual seja de tempestade no deserto meio ao sol, tornando difícil ver metros a frente.

Mas brincadeiras a parte.. viajar de moto por vezes testa nossa resistência e alto astral. E hoje foi mais um dia destes.

Por horas a fio pilotamos em meio a calor, poeira, caminhões e retas intermináveis. Quando percebi pelo comunicador que a tropa estava a beira do desmaio, consulto a Zuleica e ela me aponta um  um minúsculo restaurante no meio do nada. Não tive dúvidas, parei na certeza do reabastecimento do esqueleto. As meninas ficaram meio apreensivas dado tamanho da birosca - mas enquanto elas pensavam, eu já dava primeira colherada em uma sopa de sei la o que. A fome fez elas me seguirem..  e todos ficamos bem. Afinal, lugar que para caminhão normalmente a comida é boa e decente - assim aprendi nos meus tempos de Ogro Sênior em estradas pelo nordeste brasileiro.

Depois de alimentados, seguimos adiante com nossa caravana pelo deserto de poeiras e caminhões..

E quando minha mulher estava a beira de soltar palavrões pelo scala rider e pular da moto, eis que a gente sai da desgraçada Ruta 5 e entra na B-710. Meio que por milagre, somem os caminhões, a temperatura despenca dos 36 graus para 22 - abre o visual, e a viagem recomeça com outro astral. "Caramba... esta dobra para o mar me salvou o dia!" Pensei.

A comparação com uma travessia oceânica em um veleiro de novo me vem a cabeça. Pois as estradas são como o mar.. e tem um poder imenso de mexer ou abalar o astral do marinheiro - ou motociclista, como queira. Mas se você ficar firme na tempestade, depois vem a bonança - não é o que dizem ?

...pois assim foi pra gente. E ainda fomos coroados com um belo por do sol no Pacífico. Cavalas ao vento, vista do horizonte no mar.. nada mal. A decida até o pacífico renovou o clima do grupo, e viemos pedalando manso até TalTal. O vinho e a lasanha de camarão de cara para brisa do mar nunca tiveram gosto tão bom. Dormimos o sono dos justos.

...e hoje estou poetico ! :)


PS: Mais um detalhe antes de fechar: está chegando o dia da travessia da Cordilheira dos Andes de volta para Argentina pelos 200km de rípio - pelo Paso de Agua Negra - e tal proximidade esta trazendo duvida para minha esposa...  ela anda vez ou outra me perguntando sobre o trajeto, anda procurando no youtube filmagens..    ehhh, ah menina ta tensa. :))









a birosca onde almoçamos no meio da estrada. Bela sopa com frango!




Descida do deserto para o litoral... nevoeiro a frente





Um comentário:

  1. Valeu, muito bom seu texto. A cada dia que leu seu relato, me fortaleço para fazer a minha viajem. Obrigado e abraços!Nilton.

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