quinta-feira, 8 de março de 2012

RJ - SP pela via Dutra

Niterói - São Paulo, 7 de Março de 2012

Em meu último post, escrevi sobre a quebra de um (pequeno e velho) paradigma – ida de moto ao trabalho, pela ponte RJ-Niterói. Neste, escreverei sobre a quebra de outro. Só que desta vez, falarei sobre um paradigma um pouco maior: ir de moto de Niterói a SP, sozinho pela via Dutra.

Iniciei novamente esta semana no RJ, a trabalho... Mas logo ao chegar, recebi a confirmação de que precisaria estar retornando a SP para outros compromissos no meio da semana. E ai, pronto. Já estava mesmo querendo uma brecha para levar a Magrela para SP e veio àquela vontade danada de colocá-la na estrada para mais uma vez testar nossos limites.

Vários dúvidas me vieram na cabeça... “estou preparado”, “tudo bem ir sozinho”, “e se chover”, “aviso a quem”, “e se eu cair”, “vou aguentar.. e por ai vai.

Olhei em detalhes a previsão do tempo ao longo de todo o percurso - sol pleno no RJ, em Resende, em Aparecida, em Jacareí, e por aí vai. Se tivesse 1% de risco de chuva em qualquer parte do caminho, eu abortaria. Por fim, ainda com dúvida, decidi no cara o coroa: melhor de cinco. Cara = estrada. Coroa, deixa quieto. Deu empate, 2 x 2. Entendi como sendo um sinal dos meus “santos protetores & guias” deixando o desempate por minha conta. E assim o fiz.

Transformei meus medos em uma lista estruturada de pequenos preparativos, os quais aprontei todos na véspera: Alforges (queria testá-los), algumas roupas na bagagem (caso chovesse, eu poderia parar e dormir em qq cidade), tanque cheio, contatos de emergência escritos em cartões de visita nos bolsos, sacola com moedas e notas pequenas para pagar o pedágio evitando tirar toda hora as luvas, barras de cereais, água, e por aí vai. Por fim, a Magrela ficou linda arrumada para festa!

Minha cabeça foi como um blog ambulante relembrando tudo que havia lido recentemente sobre viajar de moto, ficando atento a todos os detalhes a serem aplicados... Registrando também cada pensamento, já compondo os fragmentos de depoimento que iria escrever posteriormente por aqui.

Não avisei minha esposa para não preocupá-la (nem preciso dizer que ela quase me matou quando cheguei em SP com capacete e jaqueta sob os braços, sorridente). Mas Decidi sim avisar um grande amigo de SP – “se eu não aparecer por SP até às 14:00 ou não te ligar até lá, manda me procurar pelos canteiros da Dutra...” (Jesus!!). Claro que ele tentou me convencer a não ir.. “você não sabe como é na estrada.. Você não esta preparado... o vento vai te empurrar, os caminhões... e por ai vai”. Enfim, no meu julgamento pesou o fato de estar rodando direto pela cidade, várias idas e vindas ao trabalho..., entendi que poderia sim encarar este trecho desde que viesse tranquilo, com calma, sem pressa, atento a tudo e todos.

Acabei dormindo bem tarde na véspera. Meu coração vascaíno me obrigou a sofrer até tarde no 3 x 2 do Vasco contra o Alianza do Peru, pela libertadores. No dia seguinte, às 5am meu despertador me tirou da cama em um pulo e poucos minutos depois já estava dando ignição no motor da magrela. Meu plano era tomar café da manhã logo depois da serra das Araras por volta das 7am. E lá fomos nós.

Estrada livre, sol nascendo, motor esquentando, meu corpo e cabeça se adaptando. Muito bacana sentir os cheiros da estrada, os cheiros do raiar do dia. Um amigo já havia me falado a respeito deles. Algo que de carro pouco se percebe, pois raramente viaja-se de vidro aberto hoje em dia. Mas de moto é diferente.

O primeiro cheiro, foi um "até logo RJ” - foi o cheiro horroroso dos "rios" que cortam a baixada fluminense até a baia de Guanabara, ao redor da linha vermelha. É uma mistura de lixo, descaso, cheiro de anos de governo ineficiente. Mas logo ao sair da cidade, melhorou muito: primeiro com cheiro de grama recém cortada, depois cheiro de boi/cavalo (gosto muito, me traz boas recordações), cheiro de café, cheiro de serra... de orvalho, cheiro da vida sendo vivida, e por aí vai.
Me adaptei muito bem às curvas, ao peso da moto (carregada), às ultrapassagens, a velocidade, a estrada em geral. A viagem rolou sem problemas, sem susto. Fui com calma, passeando, aprendendo, parando a cada 80-100km para dar uma esticada no corpo. Cheguei bem cansado, confesso. Corpo doendo, bunda dolorida, mas inteiro depois de quase 7 horas de viagem. Banho gelado, terno e gravata e fui para o trabalho logo após almoço - semi-morto.

Eu diria que 50% do risco de viajar de moto é equivalente aos riscos de viajar de carro: diz respeito às suas noções na estrada, nas ultrapassagens, velocidade de aproximação dos carros pelo retrovisor, dos movimentos dos caminhões, da qualidade e conhecimento da estrada em si. No meu caso, este risco foi reduzido dado que viajo de carro a séculos inclusive pela Via Dutra – minha velha amiga de inúmeras idas e vindas entre SP e RJ.

Outro risco, que também pode ser minimizado diz respeito a você compreender o “ritmo da estrada” e manter sua velocidade alinhada com ele: nem devagar - evitando que você seja toda hora ultrapassado - e nem rápido demais, gerando risco nas suas ultrapassagens. E assim o fiz. Mantive uma média de 100-115km/hr e vez ou outra esticava até 125-130Km/hr (esgoelando a magrela) Sempre mais rápido que os caminhões porém um pouco mais lento que alguns carros.

Por fim tem sim um risco a mais, inevitável: se pintar um cachorro na frente, um buraco ou óleo na curva.... Babou! Acidente que de carro poderia custar barato, de moto seria fatal.

Mas não tomei susto, vim bem. Meu maior desconforto foi físico. Tive que vir conversando e negociando com minha lombar e nádegas ao longo das 7 horas de percurso: “Nós não vamos aguentar!! ... você está muito pesado”, elas gritavam. “Calma!! Guenta ae!! Daqui a pouco vou dar uma parada para esticar vocês”, eu às acalmava.
Brincadeiras à parte, li em um blog um camarada dando seu depoimento sobre viajar de moto ao Atacama onde na visão dele não se faz necessário ser nenhum atleta ou coisa do tipo para fazer tal viagem. Depois da Dutra eu te afirmo: Você não precisa ser atleta.. mas se você estiver em forma, com braços, bunda e lombares mais firmes, com certeza, mas com certeza! seu sofrimento será bem menor. No meu caso, como estou um pouco fora do peso (falei assim para não magoar) cheguei destruído em SP. Meu corpo dolorido, bunda amassada, costas e braços empenados. E rodei 470km, 7hr de viagem. Imagina se estivesse na viagem para o Atacama e tivesse que rodar no dia seguinte, mais uma dutra,  por 15 dias seguidos!!! Haja dorflex!! Haja força de vontade.

Outra conclusão que tirei diz respeito a minha querida amiga Magrela. Aos amigos que possuem irmãs dela, me perdoem e não fiquem magoados com o que vou dizer. Mas a te250cc não é a moto correta para longas viagens, com longos trechos em dias seguidos. Dá pra ir? ... claro. Até a pé ou de skate vc vai. Tudo depente do quanto de "perrengue" você esta acostumado. Mas ela nã foi feita pra isso.

Primeiro, falta motor. Nas subidas, ela titubeia, e nas ultrapassagens quando você precisa dar uma estilingada, falta fôlego. Segundo, falta estrutura óssea/corpórea pra ela, faltando uns kilinhos a mais (ao contrário de mim que precisava de uns kilinhos a menos). Se por um lado isto é uma virtude para rodar nas cidades dando agilidade, por outro é uma fraqueza na estrada, dado que ela reage balançando com qq pequena turbulência em cada ultrapassagem de caminhão.

Terceiro, diz respeito a tremedeira que o motor monocilindrico gera. Algo que em passeios ou viagens de algumas horas você não "percebe", mas que após 5 horas se torna um belo desconforto. Se você amigo leitor não anda de moto, vou te ajudar a entender a sensação: pegue duas furadeiras (máquinas), uma em cada mão, e sente na maquina de lavar da sua mãe ou esposa.... E ligue tudo ao mesmo tempo por algumas horas. Pronto. Foi assim que me senti depois de horas montado na magrela. Uma mistura de corpo dolorido, dormente, e membros chacoalhados.

Mas volto a afirmar: a te250 é uma bela moto, muito bem feita, com propósito claro de atender bem no dia-dia das cidades e pequenas e médias viagens. Sei que estou forçando a barra esticando e avaliando ela para além dos seus propósitos - o erro é meu.
Por fim, minha final e feliz conclusão: na minha humilde opinião, rodar na estrada é muito mais "seguro" do que rodar na cidade. Risco sim, bem maior, é rodar por grandes capitais como RJ ou SP. Que puta loucura quando você entra na Marginal Tiete e vê aquele trânsito de 8 pistas, com carro, caminhão para todos os lados, e um bando de motoqueiros doidos andando acelerado pelo corredor. Corri mais risco em 30 min cruzando o centro de SP do que em 6 horas e meia pela estrada. Vi todo tipo de loucura.... Motoqueiros costurando entre carros em um trânsito intenso, risco de acidente eminente a cada segundo. É óbvio que vai morrer um por dia mesmo. É coisa de louco. Me desculpem aos amigos de classe... Mas a fama ruim que nos cerca é merecida.

Resumindo: Esta simples vinda a SP pela Dutra me ensinou muito e, principalmente, me mostrou que meu projeto Atacama é viável sim para Novembro deste ano. Até lá, vou acumulando mais experiência e km rodados naturalmente. Preciso sim abrir duas novas frentes de trabalho no meu projeto: 1 - Melhorar preparo físico; e 2 - Pensar em um upgrade para um moto maior em breve (mais uns meses a frente). Assuntos estes que tratarei em próximos posts.
E vamos adiante ! Agora com a Magrela aqui em SP,  já estou de olho em algum passeio curto neste próximo fim de semana, vamos ver.


Amanhecer na Serra das Araras



Parei lá no alto para bater umas fotos, muito bacana o visual

6:30am, sol nascendo, prometendo um dia bacana na estrada

Minha parceira me olhando, enquanto tomava café da manhã no primeiro posto
no alto da Serra das Araras

Abasteci uma vez, apesar de ter parado umas 5 ou 6 vezes.
9L colocados no tanque, média de 28km/litro

Que ela nos proteja e nos ajude a realizar nossos projetos

Nesta foto aqui a Magrela ficou bonita, não?

Minha última parada antes de chegar a SP
no Frango Assado da Carvalho Pinto (estrada maravilhosa, por sinal)

Não falei sobre o capacete, mas comprei este aqui na véspera - pois de tanto
 reclamar do capacete "vagaba" ele acabou sendo roubado de mim.. qdo estacionei no
centro do RJ e deixei ele trancado na Magrela.


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